IA vai “roubar” empregos? O que vejo acontecendo nas PMEs brasileiras

Baseado na minha experiência com PMEs brasileiras, analiso como a IA está realmente transformando empregos. Dados do WEF 2025 + casos reais.

IA PARA EMPRESASMERCADO DE TRABALHO

Leonardo Coelho

6/1/2025

IA vai "roubar" empregos? O que vejo acontecendo nas PMEs brasileiras

Como alguém que transicionou da pesquisa acadêmica para o empreendedorismo em IA, tenho acompanhado de perto as transformações que a inteligência artificial está causando no futuro do trabalho e mercado brasileiro.

O recém-lançado relatório "O Futuro dos Empregos 2025" do Fórum Econômico Mundial confirma muito do que venho observando na prática, especialmente aqui no Alto Vale Catarinense.

Como a IA está transformando empregos no Brasil

O relatório é categórico: as tecnologias de IA e processamento de informações são os principais impulsionadores da transformação dos negócios. Isso não me surpreende. Nos últimos meses, trabalhando com empresas como a Cerâmica Lorenzetti, vi em primeira mão como a IA está redefinindo processos que pareciam imutáveis.

Na Lorenzetti, por exemplo, implementamos um assistente de IA no chão de fábrica que reduziu drasticamente o tempo de treinamento de novos funcionários. Onde antes levava semanas para dominar processos complexos, agora leva dias! Este projeto inclusive foi destaque na mídia local como um dos primeiros assistentes de IA integrados ao chão de fábrica no Brasil.

O que dizem os números?

O relatório do WEF projeta que 41% das tarefas profissionais serão executadas predominantemente por tecnologia até 2030. Na minha experiência, essa transição já está acontecendo de forma acelerada nas PMEs brasileiras que se permitem experimentar.

E não subestimem pequenas empresas pela aparência... Já visitei oficinas mecânicas onde o dono estava usando agentes de IA de última geração para automação de prospecção no LinkedIn.

Segundo o relatório, as profissões em alta crescimento incluem:

Especialistas em IA e Machine Learning

Analistas e Cientistas de Dados

Especialistas em Sustentabilidade

Enquanto isso, funções como caixas, assistentes administrativos e trabalhadores de linha de produção enfrentam declínio significativo. Eu acho mais positivo falar sobre isso do que esconder, lembrando que este relatório não força as tendências (apesar de acreditar que contribui para elas): este é um tipo de relatório neutro baseado em pesquisas extensas, trazendo apenas o diagnóstico.

Por que requalificação profissional é urgente

Aqui está um dado do relatório que me chamou particular atenção: 29% dos empregadores globalmente esperam que seus trabalhadores precisem de upskilling até 2030. No Brasil, baseado no que vejo nas empresas que atendo, esse número pode ser ainda maior.

Por quê? Porque no Brasil as disparidades são maiores. Você tem pessoas trabalhando lado a lado no escritório de engenharia: uma sem ensino superior se iniciando no AutoCAD, outra com mestrado em termodinâmica fazendo simulações em SolidWorks.

Quando oferecemos treinamentos - seja em associações empresariais ou diretamente em empresas - percebo uma sede genuína por qualificação profissional e conhecimento em IA. As pessoas querem aprender. No entanto, um dos maiores desafios que vejo é a discrepância de nível de conhecimento em IA... Alunos já letrados em IA foram "upskilled" para patamares que parecem muito avançados para os iniciantes... Os iniciantes (ainda) não percebem que a IA é uma tecnologia que nivela para cima muito rapidamente. O desafio é então motivar os iniciantes a entrarem nesta trilha, mostrar para eles que com poucas horas de dedicação e estudo (através do nosso curso imersivo, por exemplo) é possível alcançar níveis autônomos, no qual a aplicação de ferramentas de IA para uso profissional já torna-se possível.

Habilidades essenciais na era da IA

O relatório destaca duas habilidades como fundamentais:

  1. IA e big data

  2. Redes e cibersegurança

Mas há outras que considero igualmente críticas e que devem interessar profissionais de qualquer área:

Pensamento analítico

Criatividade

Flexibilidade e adaptabilidade

Curiosidade e aprendizado contínuo

Confesso que, na minha transição da academia para o empreendedorismo, cheguei a duvidar de que poderia replicar um conhecimento tão específico, acadêmico, no mundo empresarial - um mundo até então desconhecido para mim.

Mas foi exatamente o pensamento analítico (proporcionado pela carreira de pesquisador) combinado a duas atitudes-chave que tem me permitido encontrar soluções práticas para novos problemas reais: criatividade e adaptabilidade. Na verdade, ao se lançar como empreendedor, você é forçado a ser criativo - só precisa sobreviver ao processo.

Oportunidades únicas para PMEs brasileiras

Embora o relatório inclua dados de 55 economias, vejo particularidades no contexto brasileiro que criam oportunidades únicas:

1. Gap de digitalização: Muitas PMEs ainda estão em estágios iniciais de transformação digital, criando espaço para saltos tecnológicos diretos para IA.

2. Impacto financeiro imediato: A pressão por eficiência é constante nas PMEs brasileiras. Quando mostro que a automação com IA pode reduzir 15 horas semanais de trabalho repetitivo, o ROI fica evidente na primeira semana.

3. Talento local: Temos profissionais técnicos extremamente competentes! Inclusive, a maioria dos profissionais de escritório já usam IA no dia a dia. No entanto, a maioria não usa IA de maneira profissional: eles estão explorando e navegando o alto-mar das potencialidades da IA, cada um a partir da sua ilha isolada... Mas será necessário treinamento se quisermos vê-los aplicando IA de maneira integrada, ajustada aos objetivos da corporação... A transformação digital PME requer requalificação integrada do time!

O relatório do WEF confirma tendências globais, mas cada empresa, cada setor, cada região tem suas particularidades. O segredo está em adaptar essas tecnologias à realidade local.

O que isso significa para você?

Se você é empresário, executivo ou profissional no Brasil, três pontos são fundamentais:

1. A transformação não é opcional: Empresas que não se adaptarem ficarão para trás. Isso não é novidade. A novidade agora é que, com IA impulsionando mais e mais inovações, teremos que aprender a reaprender em espaços de tempo cada vez mais curtos.

2. O investimento em pessoas é crucial: Tecnologia sem pessoas capacitadas não gera resultados.

3. Comece pequeno, mas comece: Não precisa, e nem seria possível, revolucionar tudo de uma vez. Pequenas implementações geram grandes aprendizados. Minha sugestão é sempre valorizar os dados da empresa. Empresas orientadas por dados não só tomam decisões mais acertadas, mas já possuem o combustível principal para implementar IA com sucesso: dados organizados.

E você, como está se preparando para o futuro do trabalho? Que habilidades considera mais importantes para desenvolver?

Dados e estatísticas mencionados foram extraídos do relatório "O Futuro dos Empregos 2025" do Fórum Econômico Mundial, disponível em: https://www.weforum.org/publications/the-future-of-jobs-report-2025/

Dr. Leonardo Coelho